domingo, 21 de junho de 2020

“Eu não consigo respirar. Eu só quero a minha mãe”


 
Precisamos desses gritos pretos desesperados para reconhecermos o quanto o racismo está aceso. E como sempre, o Brasil se espelhando nos Estados Unidos, mesmo sendo um país majoritariamente negro, são 54% da população, enquanto nos EUA, apenas 12,3% são afro-americanos.
 
“Please, I can't breathe”, George Floyd clamava ao policial branco, que o asfixiava, por ele ser preto, alto e forte, no dia 25 de maio de 2020. Ele não estava armado, não oferecia perigo. Morreu apenas por ser preto, alto e forte.
 
Poucos dias depois, na semana mais quentes das manifestações antirracistas aqui no Brasil, Miguel, de 5 anos, morreu ao cair do 9º andar do prédio em que a sua mãe, Mirtes, trabalhava como empregada doméstica. Sim, em plena pandemia, a sua patroa Sarí Côrte Real, primeira-dama de Tamandaré, branca e que estava com a manicure em casa, fazendo as unhas no momento da tragédia, não pôde dispensar Mirtes para zelar pela sua saúde e a de sua família. Miguel só queria a sua mãe, que desceu rápido com o cachorro, mas não a tempo de segurar a paciência da patroa branca, que colocou o menino sozinho no elevador, apertou o botão para subir, rumo ao pior.
 
Se acha que estou atrasada por escrever sobre esses fatos só agora, enganou-se. Isso tudo aconteceu há menos de um mês. A abolição da escravatura aconteceu há 132 ANOS, mas a escravidão continua e o racismo grita. A cada 23 minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil, segundo a CPI do Senado.
 
Eu sou mãe, branca e tenho uma responsabilidade imensa de mostrar à minha filha como a vida é. O desafio é imenso, pois não adianta romantizar algo tão sério. Aquele papo de “somo todos iguais” é tão real quanto o Papai Noel. Ou será que Mirtes se acha igual a mim, que tive, tenho e provavelmente ainda terei muito privilégios? Eu tive a opção de estudar o que escolhi, para seguir a profissão que eu sonhei. Será que ela sonhava em ser empregada doméstica? Nem o fato de eu ter perdido um filho me aproxima à dimensão do sofrimento que aquela MULHER, NEGRA E MÃE carrega em toda a sua história.
 
Você já está fazendo a sua parte? Estamos em débito com essa população que sempre sofreu para nos servir. Devemos pagar esta dívida com juros. Se não sabe como começar, aposte na literatura de histórias e autores negros. Há uma variedade incrível no mercado. Dicas nos links abaixo:
 
Vidas pretas importam e elas têm que estar vivas em TODOS os segmentos sociais!
 
Faça a sua parte para destruir o racismo estruturado. Policie-se, pois, lamento informar, mas você é racista.