quarta-feira, 20 de junho de 2012

A vida continua


Quando eu era pequena e me deparava com situações de perdas, pensava: se um dia eu perder a minha mãe ou o meu pai, ninguém da escola vai saber, vou guardar este segredo a sete chaves (morreeeendo de medo disto acontecer de verdade)! E tinha esta percepção porque não queria que as pessoas associassem a tristeza à minha pessoa, por mais derrotada que eu estivesse num momento tão delicado como estes. E não é que de certa forma eu estava certa?

Depois que perdi o maior amor da minha vida, senti um “baque” nos momentos que chegava em algum lugar, por exemplo. A impressão que dava era que todos se obrigavam a lamentar a minha perda e no final das contas eu que acabava consolando as pessoas. Sem contar que eu me surpreendi comigo mesma. Imaginava que, numa condição desta, não conseguiria voltar a viver. Mas Deus dá a cruz que cada um consegue carregar. E é imprevisível a sua reação diante de QUALQUER situação.

Perder alguém que amamamos é insuportável, uma dor indescritível e incomparável, por mais que você tenha passado por situações parecidas. Nunca é igual! Você pode até ter perdido um filho também, mas se ele estava bem e feliz em casa, é muito diferente do outro que estava hospitalizado, ou de um que sofreu acidente de carro, ou até se foi assassinado. Não estou classificando a pior dor, mas, de fato, tudo isso é incomparável! Sem contar a ligação que existiam entre mãe e filho. Por mais que amor materno por si só já seja imensurável, o pacto que existiu entre eles varia sim.

Além de lidar com essa guerra de sentimentos, temos ainda as decisões a serem tomadas. O que fazer com tudo que ele deixou? Para essas coisas não existe regra. Eu optei seguir o meu coração e buscar o bem-estar da minha família. Então, guardei as coisinhas mais marcantes do Davi, vendi o seu quartinho e doei muuuuuuuitas roupinhas e brinquedos a quem realmente precisava. Diminuiu a minha dor? Com certeza não! Mas me senti muito bem ajudando quem precisava. Afinal, quando mais precisamos para lutar contra o problema do meu filho, recebemos ajudas de anjos.

Muitos me perguntam: Por que eu não guardei tudo, se sou nova e terei mais filho? Se Deus me der mais uma vez esta benção, quero viver tudo intensamente como vivi para o Davizinho. Afinal, é tão gostoso escolher as roupinhas, o quartinho... O Davi é insubstituível, mas espero ser a mãe que fui para ele aos meus outros filhos, sem comparações, mas com a mesma intensidade de amor.

Diante de tamanha perda, o meu filho deixo um mar de lições. Ele viveu por 1 ano e 18 dias lutando e mostrando o valor da vida a cada dia. Então, quem sou eu para me entregar à tristeza e não continuar a minha missão? Se eu consegui voltar a sorrir, não significa que eu o esqueci! Pelo contrário, quer dizer que ele ainda está vivo em mim e continua me passado toda aquela força que sempre teve. E volta e meia eu o agradeço por toda esta força, que tenho certeza que vem dele! Nos momentos mais frágeis, que tenho as minhas recaídas, peço desculpas, pois sei que estou prendendo o meu anjo de alguma forma. Agora ele tem asas lindas para voar. É muito egoísmos de a minha parte prendê-lo a todo o momento para buscar consolo. 

Há muito tempo queria escrever isto, mas não encontrava o momento ideal. Enfim, é só um desabafo...