Precisamos desses gritos pretos desesperados
para reconhecermos o quanto o racismo está aceso. E como sempre, o Brasil se
espelhando nos Estados Unidos, mesmo sendo um país majoritariamente negro, são
54% da população, enquanto nos EUA, apenas 12,3% são afro-americanos.
“Please, I can't breathe”, George Floyd clamava ao policial
branco, que o asfixiava, por ele ser preto, alto e forte, no dia 25 de maio de
2020. Ele não estava armado, não oferecia perigo. Morreu apenas por ser preto,
alto e forte.
Poucos dias depois, na semana mais quentes das manifestações
antirracistas aqui no Brasil, Miguel, de 5 anos, morreu ao cair do 9º andar do
prédio em que a sua mãe, Mirtes, trabalhava como empregada doméstica. Sim, em
plena pandemia, a sua patroa Sarí Côrte Real, primeira-dama de Tamandaré,
branca e que estava com a manicure em casa, fazendo as unhas no momento da
tragédia, não pôde dispensar Mirtes para zelar pela sua saúde e a de sua
família. Miguel só queria a sua mãe, que desceu rápido com o cachorro, mas não
a tempo de segurar a paciência da patroa branca, que colocou o menino sozinho
no elevador, apertou o botão para subir, rumo ao pior.
Se acha que estou atrasada por escrever sobre esses fatos só
agora, enganou-se. Isso tudo aconteceu há menos de um mês. A abolição da escravatura
aconteceu há 132 ANOS, mas a escravidão continua e o racismo grita. A cada 23
minutos, um jovem negro é assassinado no Brasil, segundo a CPI do Senado.
Eu sou mãe, branca e tenho uma responsabilidade imensa de
mostrar à minha filha como a vida é. O desafio é imenso, pois não adianta romantizar
algo tão sério. Aquele papo de “somo todos iguais” é tão real quanto o Papai Noel.
Ou será que Mirtes se acha igual a mim, que tive, tenho e provavelmente ainda terei
muito privilégios? Eu tive a opção de estudar o que escolhi, para seguir a
profissão que eu sonhei. Será que ela sonhava em ser empregada doméstica? Nem o
fato de eu ter perdido um filho me aproxima à dimensão do sofrimento que aquela
MULHER, NEGRA E MÃE carrega em toda a sua história.
Você já está fazendo a sua parte? Estamos em débito com essa
população que sempre sofreu para nos servir. Devemos pagar esta dívida com juros.
Se não sabe como começar, aposte na literatura de histórias e autores negros.
Há uma variedade incrível no mercado. Dicas nos links abaixo:
- Pequeno manual antirracista - Djamila Ribeiro
- Bucala: A pequena princesa do quilombo do Cabula – Davi Nunes
- Heroínas Negras Brasileiras – Jarid Araes
- O mundo começa na cabeça – Prisca Agustoni
- O menino marrom – Ziraldo
- Nó na garganta – Mirna Pinsky
- Minha mãe é negra sim – Patrícia Maria de Souza Santana
- Meninas Negras – Madu Costa
- Madeixas – Paula Tura
- Flávia e Bolo de Chocolate – Miriam Leitão
- Menina bonita de laço de fita – Ana Maria Machado
- Ernesto – Blandina Franco e José Carlos Lollo
- O amigo do Rei – Ruth Rocha
- O Black Power de Akin – Kiusam de Oliveira
- Sulwe – Lupita Nyong
- Sinta o que Sinto – Lázaro Ramos
- Amoras – Emicida
- O pequeno Príncipe Preto – Rodrigo França
- Meu pai vai me buscar na escola – Junião
- 100 livros infantis com meninas negras
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